terça-feira, 3 de agosto de 2010

Reservas Ambientais na Costa do Marfim


As comunidades da selva marfinense de Tanoe trabalham para obter o status de Reserva Natural Voluntária, a primeira neste país da África ocidental.

Autoridades mantêm uma série de reuniões com chefes de aldeias locais, profissionais e outros envolvidos a fim de estabelecer os passos a seguir para obter a autogestão. Ecologistas e ativistas desta localidade frearam a instalação de uma grande empresa agroindustrial na selva pantanosa de Tanoe,de grande diversidade biológica.

No começo dos trabalhos de limpeza para plantar palma surgiu a voz de alarme. Ativistas de diferentes partes do mundo uniram-se à população local, incluindo profissionais que mandaram várias cartas de protesto às autoridades da Costa do Marfim. “O projeto pode levar ao desaparecimento de várias espécies de animais e plantas típicas da selva de Tanoe”, disse Inza Koné, coordenador do programa de Pesquisa e Ação para Salvaguardar os Primatas da Costa do Marfim (Rasap-CI), do Centro Suíço de Pesquisas Cientificas na Costa do Marfim.

A selva fica entre a lagoa Ehy e o rio Tanoe, fronteira natural entre este país e Gana. Três espécies de primatas da África ocidental ameaçadas se encontram na selva de Tanoe: colobo bayo de Miss Waldron, o cercopiteco diana roloway e o mangabey cinza. Também integram uma lista mundial de 25 simios em risco de extinção, explicou Koné. A selva também abriga 179 espécies de pássaros, e cerca de 60 delas exigem proteção, e 279 de plantas, incluídas 33 que preocupam os conservacionistas, segundo o Rasap-CI.

“Nos surpreendeu o início de um projeto que destruiria a selva sem que fosse feito um estudo de impacto ambiental e social porque as leis da Costa do Marfim são muito claras a respeito”, disse Koné, que liderou a oposição ao projeto de palma para produzir óleo. No final de 2007, soube-se que a Palmeraies de Cote d Ivoire (Palm-CI), uma grande companhia marfinesa de palma e associada ao Grupo Unilever, levaria adiante um projeto agroindustrial de US$ 40 milhões na selva numa área de mais de seis mil hectares.

A empresa prometeu criar mil postos de trabalho no setor agrícola e 300 no industrial. Mas o projeto foi rejeitado por unanimidade por ecologistas e comunidades locais. As autoridades haviam determinado em abril do ano passado que a selva de Tanoe é uma reserva natural, disse um funcionário do Ministério de Conservação que pediu para não ser identificado. O governo se opôs ao projeto, mas, diante dos investimentos tentaram forjar um acordo com as autoridades de Adiaké, distrito onde fica a selva de Tanoe. “Nunca poderemos compensar a perda da selva. O custo do prejuízo será mil vezes superior aos benefícios do empreendimento”, explicou Koné. Rasap-CI não se opõe ao desenvolvimento econômico, mas pretende conservar a natureza, afirmou.

Além das espécies que abriga, é o último território intacto na zona sudeste deste país e é importante para conter a mudança climática. “O fato de a selva ficar em um terreno alagadiço lhe dá o dobro de importância, pois permite fixar o dióxido de carbono, o que freia o aquecimento global e atenua as consequências da redução de chuvas e conseqüente diminuição na produção dos pequenos agricultores locais”, disse Koné.

“É um símbolo para nós e estamos felizes por contribuirmos para sua proteção”, disse Patrice Abwa, pescador de 45 anos da aldeia de Kadjakro. “Também há lugares onde pescar. A selva tem uma enormidade de recursos graças à sua preservação. Os incentivos financeiros dos investidores eram significativos, mas mudamos de opinião ao conhecermos os detalhes dos benefícios obtidos pela preservação da selva e diante da possibilidade de conflitos pela propriedade e pelo uso da terra”, acrescentou Abwa.

O produtor de palma Mathieu Yao, de 48 anos, concorda com o pescador. “Nossa oposição ao projeto obedeceu ao nosso próprio interesse. Dependemos da agricultura de pequena escala e da pesca e todos estamos conscientes de que a produção deve ajudar a manter a selva. Optamos por defendê-la”. Segundo Yao, “perdemos do ponto de vista econômico, mas ganhamos ecologicamente. Os moradores da região compreenderam o valor da selva e creio que seu interesse em protegê-la não se desfez”.

À espera de receber o status de Reserva Natural Voluntária são realizadas diversas atividades de capacitação, prospecção antropológica, sócio-econômicas e biológicas, atividades de sensibilização e iniciativas de apoio ao desenvolvimento das comunidades locais.

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